Água: o desafio da escassez

23/03/2011 0 Por Tieza Vereadora
Antonio Carlos Mendes Thame.   
 
O Dia Mundial da Água, comemorado esta semana, deve ser motivo para ampliarmos nossas reflexões não apenas sobre a própria escassez de água, mas também sobre a falta de saneamento e até do aquecimento global.
Afinal, chegamos a um ponto em que essas demandas deixam de ser apenas ambientais, ganham o status de problemas de saúde pública.
Cabe a nós enxergar a gravidade dessas questões e assumirmos responsabilidade inter-gerações, ou seja, é preciso pensar nas repercussões de nossas atuais posturas e ações sobre a vida dos nossos filhos, netos e bisnetos. Essa mudança de atitude é o único caminho para que eles possam dispor daquilo de que hoje dispomos: a prestação de serviços naturais fornecidos pela natureza ao homem.
É certo que o Brasil detém uma das maiores reservas de água doce do mundo. No entanto, há uma distribuição desequilibrada. Nesse sentido, é preciso considerar não apenas a disponibilidade de água, mas também o saneamento básico. O dado é alarmante: 85% do esgoto doméstico brasileiro vai parar nos rios, lagos e mares, sem tratamento. Além disso, 56% dos domicílios não têm rede de esgoto e em 22% não existe água tratada. Na zona rural, a situação é pior do que em muitos países africanos. Para completar o quadro dramático, temos os resultados da pesquisa do Instituto Trata Brasil, divulgados esta semana, que relatam que os municípios com os menores percentuais de esgoto tratado têm as maiores taxas de hospitalização por diarréia. Segundo a pesquisa, as crianças com até cinco anos formam o grupo mais vulnerável, e as diarréias correspondem a mais de 50% das doenças relacionadas a saneamento básico inadequado.
Realizado entre 2003 e 2008, em 81 municípios com mais de 300 mil habitantes, perfazendo população estimada em 71,9 milhões de pessoas, o estudo teve como proposta analisar impactos na saúde e no SUS (Sistema Único de Saúde) provocados pelo esgotamento sanitário inadequado.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro já apontavam que mais da metade dos leitos hospitalares são ocupados por pessoas que contraíram doenças transmitidas pela água. Males como cólera, amebíase, peste bubônica, hepatite, febre amarela, meningite, sarampo e pólio são transmitidas ao se beber água contaminada e representam a maior causa da mortalidade infantil.
 
Por outro lado, quando o esgoto é coletado e tratado por completo numa região, o índice de mortalidade infantil despenca.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que 34% das ausências de crianças de até seis anos em creches e salas de aula se devem a doenças de veiculação hídrica.
Pensando no global e na necessidade técnica e operacional de um trabalho integrado de saneamento em bacias e regiões, é necessário ir além. É preciso investir pesadamente, para antecipar a universalização do saneamento. No entanto, o que estamos vendo é uma dificuldade imensa do governo federal em fazer isso.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que previa, entre 2007 e 2010, R$ 12 bilhões para saneamento básico, para 101 projetos considerados prioritários em municípios com mais de 100 mil habitantes, teve apenas três projetos concluídos, 21 estão em andamento e 67, até o ano passado, sequer tinham sido iniciados.
Se quisermos ter um país mais igual, onde não haja miséria, precisamos decidir investir maciça e prioritariamente em saneamento básico, pensando nas nossas crianças e no futuro do nosso Brasil. 
 
Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB) é deputado federal.