Mais 10 dias

Confesso que nos meus 63 anos de idade nunca imaginei que fôssemos passar por uma pandemia dessas proporções. Nos meus raros pensamentos sombrios – felizmente prefiro dar espaço aos de esperança –, um inimigo sorrateiro, invisível, silencioso e mortal jamais esteve presente. Temo pela minha morte – ainda há tanto por ver e por fazer! -, pela morte dos meus familiares, dos meus amigos queridos, colegas de trabalho, conhecidos, trabalhadores da saúde e desconhecidos daqui e do mundo inteiro.

    

Mas, mesmo diante de um inimigo tão cruel, sorrateiro e letal, sei que nós podemos mais! O coronavírus, invisível como é, nos tem feito enxergar um pouco mais. Essa praga veio para nos mostrar que não podemos ser como éramos; algo precisa mudar em nós. E sem pretender fazer aqui um tratado comportamental, vou falar de coisas simples, corriqueiras, cotidianas.

    

Olhar os outros para aprender com eles, salva; olhar para quem não é merecedor de respeito, que não prioriza a vida e outro, destrói. Deixe-os de lado. Obediência às regras de segurança, salva; desobediência a elas mata.

    

Fique em casa; lave suas mãos, use álcool gel, use máscara e esqueça os lugares que não te ofereçam proteção. Evite a lotérica, o banco, a farmácia e o mercado, que permitem que entrem sem máscara, que deixam todo mundo entrar ao mesmo tempo, onde os funcionários não estejam devidamente protegidos. Como alguém que não se protege vai te oferecer proteção? Lembre-se que você pega a doença, e pode morrer; e passa a doença, então você pode matar. Olhem só o poder desse vírus! Mas nós podemos mais.

    

A nossa casa é um santuário! Proteja-a logo que você chegar nela. Tire o sapato se você precisou ir para a rua; troque a roupa que estava usando; lave bem suas mãos; limpe os objetos que carregou; tome um banho; aproveite o sol para desinfetar o que não pode ser lavado com água e sabão. Somos privilegiados; temos sol em abundância.

    

Esses próximos 10 dias – de 1º a 10 de maio de 2020 – podem salvar a sua e a vida de centenas de pessoas. Fique em casa e esteja protegido. Ore pelos que não puderam ser salvos e para que todos possam ter seus últimos dias por aqui com um mínimo de dignidade.

    

No final da corrida o atleta está muito cansado, mas os últimos metros que ele tem pela frente são decisivos demais para desistir. Não vale a pena se entregar agora, então ele dá o seu máximo, com os olhos fixos na linha de chegada. Cruzar a linha de chegada pode não significar um lugar no pódio, mas certamente é uma grande vitória, a maior vitória.

    

São mais 10 dias. Fique em casa.

    

Imagem: Pixabay License